História de Betinha - Parte 07 (Final)
Oi Gente, trago aqui a parte final.
Escrever toda minha vida como aqui estou fazendo tornou-se uma terapia, algo extremamente aliviador.
Nunca falei minha história no meio que atualmente convivo. Nem se quer falei dos relacionamento que tive com Anderson e seu final extremamente doloroso para qualquer pessoa, seja do meio atual que vivo ou dos anteriores. Aqui é mais fácil, por que ninguém me conhece.
Havia dito na penúltima parte que eu terminei a faculdade e me tornei militar. Eis uma questão curiosa. As memórias dos atos sexuais que tive com mulheres (Parte 06) trouxeram-me um gigantesco sentimento de confusão de gênero. Comecei a acostumar a ser homem e as constantes impressões de querer ser mulher deixaram de ser contínuas, mas ainda aparece com frequência.
Pensando em aprofundar a identidade masculina tive a incrível ideia de entrar para a Brigada Militar. Sim, havia pensando que tudo que havia acontecido comigo era um sinal de que “Deus estava me guiando para ser homem”. Apesar de não mais ser evangélico, de não mais ir à Igreja Evangélica, ainda o pensamento cristão aparece em minha mente.
Sim, eu estava a caminho de me “curar” e deveria ajudar o processo. Estudei e entrei na Força Policial Militar para ser Oficial. É como se eu tivesse regredido para um ambiente escolar menos tolerante. Com nenhum conhecimento do militarismo entrei e tornei-me um dos militares mais bisonhos que existia naqueles momentos.
Os anos de formação foram anos de desafio, de erros tremendos e de péssima adequação. Pequenos trejeitos femininos, advindos do passado, ainda eram notados pelos colegas militares. Na aula de defesa pessoal, na aula de judô e imobilizações, eu tinha que pensar várias vezes para anular meus condicionamentos de quando eu tinha relações sexuais transexuais. Era muito esquisito montar em um cara para dar socos ao invés de fazer sexo. Não sei como, mas em nenhum momento fiquei excitado na prática de imobilização (acho que o contexto ajudava), eu achava sim muito estranho e desconfortável.
Lembro que no quarto de alojamento éramos 12 e eu dormia na parte de baixo de uma beliche que rangia muito. Dentre todos eles, eu era o mais medroso e atrapalhado. Os oficiais superiores da academia mandavam constantemente seus subordinados (meus superiores) perseguirem-me e fazer-me “firmar o corpo”.
No quarto do alojamento, entre os 12 militares, recordo-me de ficar longe das brincadeiras masculinas de meus colegas. Mas eles percebiam, inclusive alguns trejeitos, e brincavam comigo insinuando que eu era gay. Certa vez um colega, que não dormia no mesmo alojamento, me deixou na dúvida (diante de todo meu jeito atrapalhado) e disse: "Beto, você brincava de boneca e sonhava em ser uma mulher". Não sei se ele acertou ou apenas zoou e coincidiu com o passado.
O mais estranho de tudo foram as primeiras vezes de tomar banho no vestiário após as aulas de educação física. Da primeira vez morri de vergonha e fiquei olhando apenas reto ou para o chão. O banho foi extremamente rápido, mesmo por que outros militares aguardavam. Havia a turma do “nem suei”, aqueles que, com a desculpa da fila e o tempo apertado, não tomavam banho após a educação física. Passei a fazer parte desta turma, pois era mais conveniente do que o incomodo de tomar banho do meio de todos aqueles homens pelados. Após o professor de educação física liberar, eu sempre ia devagar ao vestiário só para deixar todos formarem aquela fila antes de mim. Assim eu tinha argumento para não tomar banho.
Nas corridas (correndo e cantando cânticos militares) eu sempre pensava ao mesmo tempo: “nossa, onde eu vim parar”!
No quarto do alojamento havia um militar que mais me provocava com as brincadeiras de cunho homossexual. Ele brincava além dos limites dos outros, como que querendo descobrir algo de mim.
Em um certo dia ele estava se vestindo na minha frente (era comum isso, apenas eu que ia ao banheiro me vestir) e pegou no próprio pênis (dentro da cueca) e balançando disse para mim: “olha aqui, você aguenta?” Neste dia, havia uns quatro dias em que não me masturbava em segredo no chuveiro (enfiando um dedo no cu e rebolando) ou na cama (de bruços rebolando) e cai na provocação dizendo: “quer tentar?” Não havia mais ninguém no quarto do alojamento e ele sacou o pênis para fora e eu abaixei a calça. Ele encostou o pênis na minha bunda e disse “que cu bom para comer”. Com o medo de ser pego eu vi um vulto, mas era o reflexo de um espelho. Foi neste espelho que eu vi uma das cenas mais bizarras da minha vida. Eu me vi e pensei “que bosta, já sou um homem”. Em ato reflexo tirei minha bunda do pau dele e disse “pederastia é crime. Não sou viado, sai fora”.
Um sentimento de revolta e frustração me tomou, eu era “um homem”. O dia todo fui assombrado pela imagem do espelho e fui desanimando. Mas cheguei a conclusão de que eu deveria aceitar e trabalhar esse aspecto. Pensei também que o que me fazia diferente de todos os outros militares, era que eles tinham de forma automática na mente a sabedoria que eram homens e eu tinha (e ainda tenho) a impressão em diversos momentos que eu era uma mulher. Isso cria um descompasso. Eu sempre pensei que um homem formado desmunhecando é extremamente feio, ridículo e patético. Eu lutei para não assim parecer. Fui para a academia física malhar para melhorar minha forma e observar e imitar alguns homem (para suprimir qualquer tendencia viadática em mim).
Consegui me formar e fui enviado, no aspirantado, para uma cidade no interior do Estado. Nesta cidade o comandante do batalhão nos instigou a trabalhar arduamente e com vontade. Assim o fiz, mas em uma das primeiras ocorrências quase que o excesso de “vibração” levou-me a matar um vagabundo.
Por volta das 17h na rede rádio foi recebida a informação de que uma mulher havia acabado de ser estuprada. Na viatura que eu estava tinham dois praças, um segundo sargento e um soldado, o motorista. Passando por uma das rodovias que cortam a cidade, já no início da área rural, eu vi um cara com as mesmas características e vestimentas do estuprador. Paramos a viatura e eu gritei “parado, polícia”. O indivíduo correu pelo mato pulando as cercas e arames. Também corremos atrás e solicitamos apoio para um cerco.
O cara correu muito e eu tirei forças para correr mais. De longe o estuprador tinha semelhanças com aqueles indivíduos, aqueles satanás, que me estupraram quando Anderson me levou até o mato, até a caverna. Continuei correndo enquanto o sol diminuía e a escuridão chegava. Mesmo tendo todos os equipamentos como coletes, cinto de guarnição, pistola e algemas, consegui alcançar o indivíduo. Coloquei a mão nele e começamos a lutar. De imediato ele conseguiu me derrubar e quando cai o segurando, me veio toda aquela memória do passado terrível, do estupro. Minha força duplicou e consegui inverter a posição e o golpeei no rosto diversas vezes. O criminoso estendeu a mão dizendo “perdi senhor, perdi”, mas eu não escutei e continuei socando-o até escorrer muito sangue e ele ficar zomzo, grogue. . Em seguida levantei e saquei minha pistola e apontei para o estuprador, ia mata-lo ali mesmo. Mas, para a sorte da minha carreira, o 2º Sargento da minha viatura, apareceu do nada e segurou meu braço dizendo “calma tenente”. Minha visão em túnel tinha se desfeito e eu virei meu braço para o lado e atirei na árvore. O soldado que chegou algemou o estuprador, que estava com vários dentes quebrados e parte da orelha cortada. No registro constamos que o indivíduo caiu morro abaixo se ferindo.
O 2º Sargente perguntou se eu estava bem, sendo que eu respondi que sim, e em seguida ele disse: “o senhor está novo, faça isso não senhor. Se acalma chefe, tu ainda vai pegar muito vagabundo”.
Recebi os parabéns do Tenente Coronel, comandante do Batalhão, que mandou eu realizar o pedido de recompensa pela prisão. Não o fiz, pois acreditei que se não fosse o Sargento eu estaria preso por ter matado um homem (ou um lixo) já dominado.
Apesar da farda, certa vez, à paisana comprei algumas calcinhas para vestir em casa. Morando sozinho comprei também batom. Certo dia, em horário de folga, comprei cenouras e amarrei em um travesseiro, colocando uma camisinha na cenoura e manteiga no cu. De calcinha fechei os olhos, lembrei dos tampos antigos e galopei me imaginando um mulherão. Isso ainda continua em vários momentos.
Ter conseguido transar com mulheres e obter prazer assim, conforme a época de faculdade, fez-me criar coragem e iniciar um relacionamento. Casei com uma mulher á pouco, um ano atrás, e várias vezes transo com ela, ora lembrando da minha sexualidade feminina (que faz meu órgão ficar bem duro) e ora com a técnica da mente vazia (que não fica tão duro e demora mais para gozar.)
Quando transo com minha mulher lembrando do passado acontece algo estranho. Antes e após gozar não consigo precisar se meu pênis está duro ou não. Já quando medito com a mente vazia e apenas observo as sensações, fico focado e sinto desde o borbulhamento no pênis até a ejaculação. É a ponte sexual masculina sendo usada, mas que tem muita menor eficiência que a anterior (talvez por que aprendi mais cedo).
Bom, essa é minha história. Ela ainda não acabou. As vezes penso em mudar de profissão, arrumar um homem para minha mulher casar e ir embora feliz. Assim eu poderia iniciar uma terapia hormonal para me tornar uma mulher. Mas outras vezes penso que estou indo muito bem como homem e que pode ser que acabe as tentações femininas. Não uso mais calcinhas, mas uma parte de mim pensa em um dia usar todo dia, outra parte quer tudo isso eliminar.
Continuo minha vida e em algum momento chegarei em algum consenso mental, onde haverá paz sendo plenamente homem ou plenamente mulher. A ciência, Deus, ou sabe lá o que, irá me dar uma luz. Ainda temos muito a viver e presto aqui minha história até o momento atual. Espero que ajude muitas das meninas e meninos que, como eu, possuem dramas, vontades, traumas e felicidades como nesta minha história. Um grande abraço e como diz o maluco beleza, no caso de ter tentado e não acertado, “tente outra vez”.
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